quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Persépolis


Persépolis, 2007 - Direção: Vicent Paronnaud, Marjane Satrapi

Pra eu falar de Persépolis, eu tenho que antes deixar claro minha gratidão com a pessoa que me indicara calorosamente essa animação francesa. Anne me disse: "Assista Allan, o filme é muito, muito bom". Como meu 'pé atrás' para animações não é de hoje - tanto o é que além das animações da Pixar e das do idolatrável Richard Linklater, tem Valsa para Bashir que me traz boas recordações -, as expectativas em torno de Persépolis era a de ver algo que apenas trataria de política, com forte engajamento, etc. Ledo engano, a dica de minha colega Anne revelou-se uma das grandes experiências em termos de cinema para mim, nesses últimos dias. Persépolis, de fato, me surpreendeu.

Comentário

Animação francesa trilha à perfeição ao fazer uma simbiose perfeita entre análise político-ideológica e personalidade de sua protagonista. Há uma universalidade nos dramas sentidos por Marjane; há talento e entendimento da linguagem cinematográfica por trás de Persépolis.

Sim. Persépolis é o cinema quase perfeito. Basta ver como a noção de tempo é pintada no filme. O presente, são as cores, vivas e ativas cores; o passado, por seu turno, ganha os tons fortes do preto-e-branco, marca da qual o filme não deixaria de estampar.

A história se passa em uma família de classe média do Irã. Cultos, os pais da jovem Marjane, que com seus oito anos sonhava em ser uma futura profetisa e salvar mundo com isso, ansiavam o melhor para sua filha. Em meio aos acontecimentos que conduziram à queda do xá e de seu regime brutal, Marjane é educada e mostra-se bem próxima de sua avó. O período que segue, com a nova República Islâmica inaugura-se a era dos “Guardiões da Revolução”, que controlam como as pessoas devem agir e se vestir. Sempre com idéias revolucionárias que remetiam a alguns de seus ancestrais, os pais decidem enviar Marjane para a Áustria.

Nesse sentido, o filme parece focalizar a relação entre a vida deslocada de Marjane e o complexo sistema político do qual ela não podia escapar, como em determinado momento - talvez o mais belo da trama - Marjane diz: "Toda liberdade tem seu preço", a narrativa de vida de Marjane tratará de nos mostrar.

A tão complexa situação política do Irã no século XX é passada com talento de quem evidenciou uma revolução que só trouxera radicalidade a um país já atingido pela ganância das potências capitalistas. Tal como Godard em seu "La Chinoise", o olhar que Persépolis lança sobre a política comunista e capitalista é o um olhar de desalento.

A direção do entreante Vincent Paronnaud, que em conjunto com a autora dos quadrinhos, do romance, e ela própia personagem Marjane Satrapi, detalha o filme de bons e interessantes momentos. Não obstante, a Trilha Sonora da animação também se destaca, sobretudo no começo do longa.

Porém, o filme, por vezes, peca no ritmo narrativo mesmo, e embora utilize de bons recursos de animação para auxiliar na história, algumas vezes sobra uma ligeira sensação de pressa ou demora no trato de eventos da vida de Marjane.

Sem mais delongas, o que se pode dizer de Persépolis, é que se trata de uma bela história, de uma mulher que olha com dor para seu passado, uma dor que ao mesmo tempo é de saudade e orgulho dos bons momentos que passara com sua família e seus amigos, é um passado de vergonha por causa do regime autoritário que governa sua pátria.




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